Me doía ver a dor de Eulali. E pior que ver era sentir.
Versos novamente não entregues, carinho e vontade que se desfaz. Sabe quando
dizem que há a melhora da morte? Não que seja morte, mas foi isso que
aconteceu. Eulali esticou com todo vigor as extremidades dos lábios, com sorriso
de ponta a ponta, orelha a orelha me veio contente dizendo:
- Estou feliz, mas tão feliz que parece que o contentamento
hora não caberá em mim e explodirá. Tipo de felicidade pura que às vezes até
faz o peito doer.
Fiquei contente em vê-la assim. Como é bonito ver
felicidade. Felicidade de motivos tão bobos mais contentes. Sorri com Eulali,
não aguentei ficar de riso fechado com aquela tamanha felicidade perto de mim.
Ficamos rindo por algumas horas. Gargalhadas gostosas de doer o estômago.
Estranho quando percebi! Quase sempre em ápice de felicidade
de Eulali vinha com ela também a dor. “Felicidade pura que às vezes até faz o
peito doer”. “Gargalhadas gostosas de doer o estômago”. Cheguei a pensar que
dor era normal, normal para o clímax de satisfação. Deixei Eulali sozinha por
um tempo e fui contente para casa.
Enquanto escrevia algumas coisas sobre o quando a vida nos
surpreende e de como as coisas vingam ou deixam de vingar quando menos esperamos,
escutei um grito:
- Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! Ajude-me!
Fiquei preocupada, preocupada e desesperada sem conseguir
reconhecer de onde vinha toda aquela dor. Tipo de pedido de socorro que te
desnorteia, que te causa a noção de inutilidade. Vontade de resgatar mais não
poder fazer nada. Corri aflita nos labirintos que conhecia, mas quanto mais eu
procurava, mais parecia que eu me perdia. Procurei, procurei, quase desisti. Procurei
mas não encontrei, era dentro de mim.
Eulali neste conto morria.
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