Eulali anda preocupa, pois cada dia é mais evidente as provas
de amor que ela tem por ele. É amor e medo que tira o sossego, outrora trás
sorriso para o rosto também. Confesso que às vezes me vem o riso ao ver as
ações e atrapalhadas de Eulali. Ela finge que não é com ela, e que nada está
acontecendo lá dentro. Que a tranquilidade é seu estado principal, mas não é.
Ouvi outro dia ela gritando. Gritava para dentro, para si, sem deixar vestígios
nem som. Talvez deva ser assim mesmo, ter toda essa vontade, esfriar e
esquentar e às vezes doer. Penso que talvez estejam lhe testando. Teste a fim
de certeza ou merecimento. Ela já não pensa no dia do pedido ou aceitação, ela
já pensa nos dois fazendo as compras do mercado. Vem-me o riso novamente. É que
Eulali sempre foi meio louca assim, visionária de pensar muito na frente. Ela
se considera dele sem ele nem mesmo saber. E não consegue entender quando vem
outro e ela conta que já tem dono e o outro não a entende. Ela se declara à companhia,
mas às vezes tento lhe alertar:
– Eulali, acalma-te! – ela é teimosa e diz-me:
– Pede-me calma? Calma? Por acaso esperar e ver o que sucede
em um ano e cinco meses está bom pra ti?
– É, mas não esperaste literalmente todo esse tempo, lembra? Indaguei-lhe.
Ela silencia diante o ocorrido e arrependimento, mas sussurra:
– Pelo menos aprendi alguma coisa com aquilo.
Eulali resgata toda a sua fé, que as coisas sucedam de acordo
com o que tem que ser, mesmo que o que tenha que ser não seja sua vontade. Mas que
seja e que suceda sem ela abrir a boca pra o dizer. Eulali é da moda antiga,
quase do tipo que joga o lenço no chão a fim do bom partido vim catar. Talvez
seja isso, talvez Eulali devesse andar com um lenço, ou mesmo escrever na
testa: Eis-me aqui! Mas não, como disse ela é das antigas. Do de mãos Eudadas,
cortejo, pedidos e beijos na testa. Eulali fica quieta então, esperando.
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