Então, depois da viagem eu percebi a necessidade que eu tenho de aprender a ser independente. Que eu posso cuidar do meu nariz e tenho pés para ir onde quiser. Confesso, confesso eu. Eu tenho medo de andar sozinha na rua. Sei que não é algo que tenha que se justificar, mas fiquei mais amedrontada depois que fui assaltada e o ladrão disse pra eu abraçar e dar um beijo nele [nojo].
Eu o respondi dizendo: - Isso já é abuso!
Não, eu não o beijei. Sequer dei o abraço. Fiz cara de brava e não aceitei a condição [um dia eu conto a história em outro post]. Enfim, hoje fui preparada. Tirei joias, levei celular do ladrão [celular mais barato que uso quando estou a pé], E uma sombrinha. Estava disposta a qualquer movimento sequer de qualquer um, seja ladrões ou enxeridos, tacar a sombrinha na cabeça. Suashaushu... Fui eu, com cara de poucos amigos e passos acelerados. Caminhei o centro e me senti mais livre, dona de mim.
E o que eu fui fazer na rua?
Comprar tintas, envelopes, ir na escola de música me matricular e ver como faz pra postar algo no correio. Antes da viagem dei uma lavada em algumas sapatilhas, porém algumas saíram a cor e ficaram feiosas. Resolvi pintá-las. Chego à loja de tintas. Só tinha uma das cores que queria. Pincéis. Moça do balcão me mostra um: R$ 11,00.
Falei:
- Nó, tem um mais barato não? É só pra pintar um negócio.
- Pera, tinha um aqui de R$ 2,50. Achei.
Levei-o.
Fui à loja do lado. Achei as outras tintas e envelopes.
Saio da loja. Começa a chover. Abro sombrinha. Vento forte. Sombrinha vira. Me molho toda. Rua errada. Perdida. Peço informações. Entro no banco. Espero a chuva.
Chuva passa um pouco... Vou à loja da mãe de uma amiga minha visitá-la. Chego. Ela abre a porta. Pergunta:
- Ué, tá sozinha?
- Tô sim!
Ela não acreditou.
Amiga não está. Converso um pouco com mãe e tia. Descubro que pra postar algo no correio é só eu levar a coisa com endereço e tal [isso eu já sabia]. Compro rifa [espero ganhar]. Amiga chega. E diz:
- Tá sozinha?
- Tô!
- Que milagre.
- Vim comprar tintas.
Vamos atrás de roupa para academia. Acha-se. Me faz calo. Ando mancando. Me despeço. Vou à farmácia [comprar band-aid]. Encontro ex-vizinho [trabalha na farmácia]. E ele diz:
- Oiiii. Tudo bom?
- Tudo bom? [ato de responder perguntando] digo eu.
- Tá sozinha?
- Tô! Tem band-aid?
- Tem sim, vou pegar pra ti.
- Obrigada!
Peso-me. Engordei 1 quilo.
Indo pra casa... Tempo de chuva de novo.
Moço pede ajuda pra poder almoçar. Achei-o simpático e pouco aparentava canastrão. ELE TINHA OLHOS CONTENTES. Ele rio, agradeceu. Eu ri também. Fui-me.
Paro e me apoio no poste. Coloco Band-aid. Chuva começa. Entro na Farmácia-livraria. Vejo Cds e fico lá, lendo sinopses de livros até a chuva passar. Me perco nas leituras. Começo a rir de livros toscos [Seja feliz em tantos dias. Como ser bem sucedido nos negócios. Manual dos filhos], tipo essas besteiras enganadoras e tomadoras de dinheiro do povo. Por falar em dinheiro, é uma vergonha o preço dos livros, é um absurdo. Um pai de família que ganha um salário mínimo não se pode dar o luxo de comprar um livro por mês, porque eles sempre são um absurdo. Dar comida para os filhos ou ler? O que tu achas que ele escolhe? Enfim... Chuva fica rala.
Trimmmm... Trimmmmm... [Toque de celular, mãe ligando]
- Jam, teu pai chegou. Tá chovendo né? Onde tu tá? Quer que ele vá te buscar?
- Tô na rua. Não, quero não.
Tradução da conversa:
- Jammmmmm... Onde tu tá, DEUS DO CÉU! Porque tá demorando tanto?
- Aff... Me deixa em paz, tô viva.
Minha mãe é assim, no mínimo ela acha que me sequestraram. Depois que surgiu esse boato de moças raptadas, levadas para outros estados ou até países, forçadas à prostituição. Se eu demorar um pouquinho a mais. Ela acha que me levaram...
Chuva engrossa... Chuva fica rala. Vou embora.
No caminho passo pela a lanchonete do meu vizinho. Lembrei que quando eu era mais nova, quase sempre depois da educação física eu parava lá pra lanchar. Resolvi parar. Vizinho diz:
- Oi tudo bom?
- Tudo bem! ^^
- Tá sozinha?
- Tô! [sorriso amarelo]
Pedi o de sempre: Enroladinho de salsicha com suco de maracujá. Nóoooh! Fazia no mínimo uns 8 anos que eu não comia isso. Lembrei-me de quando comecei a andar sozinha na rua e num tinha medo de ladrão. Eu já fui bem solta. Termino o lanche. Vizinho me apresenta a uma funcionária. Diz que eu sou sua vizinha e que me ver mais ou menos uma vez por ano. Eu ri. Fui embora.
Chego em casa, tarde demais para ainda ir à escola de música. Resolvo ir outro dia. Pai chega, resolvo aproveitar carona. Chego lá, escola fechada.
É... Foi um dia bom. Que eu continue meu progresso de temer menos andar na rua. Parece que tô até bastante conhecida como a moça que não anda só na rua.
- Tá sozinha? [espanto]
- Tô sim! shuahsuasu...
Ah simmmm... Aqui está a sapatilha transformada:
Arrivederci!